Alojamento alternativo - Alternative accomodation - Anders logeren

17 Aug 2012

Volta ao Algarve em quatro experiências



Não é preciso parar o tempo para viver fora dele. No Algarve há momentos assim, em que o relógio é apenas um adorno e os minutos esticam até aos limites da vontade. Vinte e quatro horas na região é o que aqui propomos, entre experiências únicas no ar, no mar e em terra.


Créditos: Barlavento Balloons

O dia começa literalmente nas nuvens, a bordo de um balão de ar quente. A descolagem faz-se ao amanhecer na base da serra de Monchique numa viagem que se deslocará ao sabor do vento. No silêncio do movimento, a paisagem desfia-se pelos montes do Barrocal, laranjais e pelas pequenas aldeias de hábitos tradicionais. Com a natureza a circundar o balão colorido e as cabeças mais ou menos distantes (consoante a altitude de voo) de quem ficou em terra, este passeio acima do nível do chão continua durante uma hora e só termina cerca de 20 quilómetros depois. Dentro da gôndola – não veneziana, mas portuguesa – há espaço para amigos e família, mas também há pacotes românticos para duas pessoas. E nem no final a navegação aérea desilude: há ainda a emoção de não se saber onde termina o voo.


Créditos: O Estaminé

Ao aterrar, o apetite pede um almoço numa ilha deserta. Satisfaz-se o capricho da barriga na Ilha da Barreta, em Faro, onde se saboreia o peixe fresco grelhado comprado aos pescadores da zona. Douradas, sargos e chernes ou amêijoas, choquinhos e camarão, todos entram na ementa de delícias que provam que o que é local é bom. Apenas acessível de barco – o transporte faz-se por carreira regular no verão ou aquatáxi –, «O Estaminé» é o restaurante mais a sul do país, localizado no Parque Natural da Ria Formosa. Ideal para descansar sobre as dunas, com vista perdida na costa e na serra.


Créditos: Natura Algarve

Tarde adiante. O resto do programa continua na água, mas sem a habitual toalha ou guarda-sol. Olhão é o destino que se segue para descobrir outra sensação de voar: a observação de aves em plena Ria Formosa. O catamarã parte da marina e tem rumo traçado durante cerca de cinco horas. Há binóculos, documentos para ajudar a identificar as espécies e um guia da natureza por perto para explicar a diferença entre o colhereiro, por exemplo, e a garça-real. Pouco depois de zarpar, o barco navega pelos sapais que mostram bandos de ostraceiros – com as suas penas pretas e brancas em contraste com o bico e as patas vermelhas – e de flamingos, que já parecem acostumados aos olhos esbugalhados de quem passa. O percurso tem tanto de beleza quanto de surpresa: na flutuação das águas, as margens enchem-se de sons e de animais que garantem fotografias impressionantes, se forem menos esquivos.


Créditos: Villa Termal das Caldas de Monchique

A fechar o dia, um jantar sublime no interior algarvio. O «Restaurante 1692» ganhou o nome por homenagem aos primeiros registos de utilização pública da água termal das Caldas de Monchique e está aberto todos os dias, com pratos que exploram os enchidos da região ou o linguado à algarvia – o palato agradece. De preferência, que se jante na companhia da brisa exterior da esplanada dos ulmeiros, situada entre a tranquilidade natural do ambiente e a melodia dos pássaros que por ali esvoaçam.

11 Aug 2012

VIA ALGARVIANA

O Algarve de Sotavento a Barlavento

Por: Uwe Heitkamp (52) , jornalista, guia e formador. Vive desde 1990 em Monchique. É fundador do jornal semanal trilingue Algarve123.



A Via Algarviana começa na fronteira com Espanha, em Alcoutim, e é a rota pedestre mais empolgante a sul da Europa. Na fronteira entre Andaluzia e o Algarve, delimitada pelo rio Guadiana, fica o concelho de Alcoutim, um pequeno ninho, completamente adormecido, no lado português. Aí come-se verdadeiramente bem, pode-se descansar com tranquilidade e acompanhar o curso das águas, que 50 quilómetros mais adiante para sul, correm para o Atlântico.

Daqui vamos serpenteando por veredas, colinas e vales, por ribeiras e montes. Ao longe, a sul, fica o litoral e o rebuliço do turismo. E vamos a isso: a cada dia cerca de 25 km. Passamos por pequenas aldeias, onde a agricultura tradicional ainda conta para algo. E se começar a sentir as suas pernas a implorarem “ajuda, não aguento mais”, é porque já não falta muito para chegar à próxima hospedaria. Cada dia um pouco. Num total de cerca de 340 quilómetros. Refira-se que esta travessia não é para “ovos-moles”. De certa forma, convém que já tenha feito outras caminhadas antes, e que possua as botas adequadas para o efeito, especialmente para as subidas na serra. A chegada ao Cabo de São Vicente, a parte mais a sudoeste da Europa, onde as ondas do Atlântico marulham nas falésias, acontece ao fim de treze a catorze dias. É aqui que termina o mundo e a Via Algarviana. No oceano. Na praia. Deseja saber mais? Então continue a ler.

Em Portugal tudo dura sempre mais algum tempo. É como na Bela Adormecida. Às vezes isso até é bom. Pois a natureza permanece intocada. Hoje, depois de doze anos de planeamento, esta rota longa está quase sempre sinalizada, embora às vezes ainda haja alguns caminhantes que se perdem do caminho. Pode ser que os caçadores tenham removido dali os sinais, que os tenham mudado de posição para nos pregarem uma partida, ou que tenham virado ao contrário as pedras sinalizadas. Muito recentemente, dois gringos do Texas foram percorrrer a Via Algarviana e não acharam nada divertido andarem dois dias inteiros em círculo. Fizeram o resto do caminho de autocarro. Para desgosto de todos. O caçador é o inimigo natural do caminhante em Portugal. Ainda bem que na época primaveril (de Janeiro a Junho) os caçadores não podem andar aos tiros por aí, pois é tempo dos animais procriarem e é proibido por lei caçar. É por isso muitas vezes vantajoso percorrer a Via Algarviana com um guia. Porque ele não só conhece bem os trilhos, como também conhece os habitantes. Há 20 anos que vivo na serra algarvia, sou jornalista de profissão e guia – e tenho várias histórias verídicas e fictícias para partilhar consigo...

Outra coisa que também faz parte de uma caminhada é a logística. Hoje em dia, os caminhantes já não morrem por falta de mantimentos como antigamente em que a cada par de quilómetros encontrávamos alguém faminto à beira do caminho. A Via Algarviana já era percorrida por peregrinos no século IV, até Cabo de São Vicente, em devoção ao Santo. Portugal é membro da União Europeia desde 1986 e, entretanto, foi bem guarnecido. Hoje, já não se coloca mais a questão “onde comer e dormir bem, mas sim o que comemos e como dormimos”. Hoje, para satisfação da maioria, existe resposta para estas questões. Se quiserem, já não têm que dormir ao relento, e já não precisam de andar com tendas ou sacos-cama às costas. Existem hospedarias com quartos de solteiro e de casal e bons colchões. E para comer há não só o quanto baste, como também existe uma oferta de pratos típicos caseiros, o que significa que eu irei testar convosco a gastrono­mia local. Há pão fresco com queijo e chouriço, doce e mel praticamente todas as manhãs. E como é natural, ao longo da Via Algar­viana iremos também de hospedaria em hospedaria. Porém, pelo menos uma vez durante a travessia serei eu a cozinhar para vós.

É fabuloso percorrer a Via Algarviana na Primavera! Depois do florescer das amendoeiras, das laranjeiras e das mimosas, e após as chuvas abundantes de Inverno, o sol de Primavera mergulha a paisagem num mar de cistos; as ervas aromáticas perfumam a atmosfera; sopra uma brisa suave. Vemos águias, lontras, raposas, fuinhas e outros animais selvagens. Caminhamos por entre florestas de sobreiros; descansamos debaixo dos pinheiros mansos. E se quiser, plante você próprio uma árvore e deixe a sua marca no projecto de reflorestação. Na Páscoa encontra na Via Algarviana a atmosfera ideal que lhe irá ficar para sempre na memória. Fica um aviso: não é aconselhável percorrer a Via Algarviana no Verão. Pois o sol queima-lhe na cabeça. E a época é não só demasiado quente, ou melhor, demasiado seca, como também é muito poeirenta e constitui um risco enorme de incêndio. E além disso, leve também consigo um amigo, ou até mesmo um guia.

E mais uma coisa: a Via Algarviana não é para turistas que querem caminhar até ao café mais próximo. É indispensável uma boa mochila, que não deve pesar (cheia) mais de 8-10 kg. E é sempre uma vantagem trazer, além da água, também um sortido de frutos secos no bolso. Leia, por isso, o que mais deve levar na sua mochila. Divirta-se...

São indispensáveis para a Via Algarviana: botas impermeáveis, uma mochila com itens de protecção contra a chuva, chapéu, óculos de sol, protector solar, bastão, garrafa de água, lanterna, bússola, telemóvel e carregador solar da bateria, kit de primeiros socorros, fato de banho, toalhas, produtos de higiene pessoal, sandálias, canivete, apito.

Mais informações: email: info@via-algarviana.com